
Há 42 anos, em 27 de outubro de 1982, uma das maiores transformações ambientais e sociais do Brasil foi concluída com a inundação das Sete Quedas, no rio Paraná. Para dar lugar à Usina Hidrelétrica de Itaipu, um dos maiores projetos de geração de energia do mundo, cerca de 770 km² de terras brasileiras foram submersos, afetando diretamente as vidas de 42.444 pessoas – em sua maioria trabalhadores do campo – que foram desapropriadas e obrigadas a deixar suas terras.
O impacto da usina também foi severo para as comunidades indígenas. Pelo menos 20 aldeias indígenas, incluindo a do povo Avá-Guarani, foram desterradas. Mesmo décadas após a inundação, os Avá-Guarani continuam a lutar pelo direito à terra que foi tomada, enfrentando desafios para garantir um espaço para viver e manter suas tradições culturais.
Antes da inundação, as cachoeiras de Sete Quedas, com uma vazão extraordinária de 13,3 mil metros cúbicos por segundo, compunham o Parque Nacional das Sete Quedas, criado em 1961. O local era uma das maravilhas naturais mais icônicas do Brasil, atraindo turistas e sustentando a economia de cidades próximas, como Guaíra (PR). No entanto, em 1981, o parque foi extinto pelo governo, e o território foi destinado para o desenvolvimento da usina. Um trágico acidente envolvendo a queda de uma ponte precária em 1982 resultou na morte de 32 pessoas que buscavam apreciar as quedas pela última vez.

Para marcar o fim das Sete Quedas, ambientalistas e artistas realizaram o festival Quarup em julho de 1982. Conhecido como um “Woodstock ecológico”, o evento reuniu cerca de 5.000 pessoas para protestar e se despedir das cachoeiras, com performances artísticas e discussões sobre os impactos ambientais e sociais da hidrelétrica. Esse festival se tornou um marco de resistência, destacando a necessidade de conscientização sobre a preservação do meio ambiente e o impacto das grandes obras na natureza e nas comunidades.
Desde então, a Itaipu Binacional implementou projetos de reflorestamento e a criação de áreas de proteção ambiental para restaurar parte do ecossistema afetado. Contudo, os danos irreversíveis causados à biodiversidade e às comunidades locais ainda trazem reflexões sobre o desenvolvimento sustentável e a importância de proteger áreas naturais e culturais de grande valor para o Brasil e seus povos originários. Escrito por Ana Letícia Vieira, estudante de Relações Internacionais e colaboradora voluntária na ONG Rio Paraná, com interesse em políticas ambientais e impacto social.
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